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Uma disputa verbal (Guerra das proparoxítonas)

De forma poética,
quase profética,
discursava a Ética.

Totalmente pragmática,
quase analítica,
rebatia a Crítica.

"Seu pensamento é retórico... é frígido!"
praguejou a Ética.
"O seu é hermético, não é dinâmico!"
retrucou a Crítica.

"Suas palavras são mecânicas,
apesar de analíticas, são esdrúxulas!"
respondeu a Ética em tom exaltado.

A Crítica foi implacável e ríspida:
"Suas reflexões são completamente raquíticas,
nada artísticas. Menos ainda científicas!"
E não parou por aí:
"Não é flórida. É mera estética!"

A Ética não pensou duas vezes e abusou da lógica:
"Sou máxima... você mínima!
Sou ânimo... você anônima!
Isto mesmo... não perca sequer uma sílaba...
Sou cândida... você ávida!"

A Crítica ficou tácita,
não conseguiu lançar sua última.
A Ética apesar de enérgica,
também perdeu a tônica.

Depois de um longo silêncio
e do fim das proparoxítonas,
Ficaram atônitas e fizeram as pazes,
como convém a política.

Elvis Almeida

Comentários

  1. Sim, é de minha autoria... acordei hoje bem frenético e resolvi fazer um poema que predominasse somente proparoxítonas (risos).

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  2. A Guerra das Proparoxítonas está para os textos publicados na internet o mesmo que um oásis para o Saara.
    Belíssimo texto.
    Parabéns

    ResponderExcluir

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